e a busca pelos chapéus perdidos!!!
O mercado...
...um mundo de cores...
...imagens...
...e odores!
Por aqui encontra-se de tudo...
...sumos em saco de plástico (um "must" daqui do Perú!)...
...calças e rabos...
... ofertas e pedidos de emprego muito bem ilustradas.
31 de Março
A nossa busca pelos chapéus levou-nos ao mercado de Huaraz. Uma mescla de cheiros, cores e consistências a que já vamos habituando os sentidos, embrutecidos pelos excessos de estimulos.
Um merdaco de roupa, vegetais, carne (viva, morta e desfeita), peixe (fresco e salgado), fruta, cadernos, lápis... Todo o tipo de pregoes e preços. Odores que, à sua vez, despertam fome e no segundo a seguir, nojo e vómito. O agre e doce. O sujo no chao... que hoje se faz sentir mais real em dois pares de pés em chinelos, porque as sapatilhas ficaram a secar.
Aqui os frangos vivos, ao monte, dentro de uma rede. Ali à frente, mortos, pendurados em fila pela cabeça, com uma organizaçao geométrica impressionante. Uns passos mais à frente, cozinhados. O milho de todas as formas, cores e tamanhos. O mesmo com as batatas.
Massas e arroz desfilam por corredores sombrios, por força do amontoado de gentes naqueles espaços estreitos e improvisados.
Aqui uma sra passa a empurrar um carro carregado de maças vermelhas, grandes e brilhantes. "Chilenas!" - anuncia. A água cresce na boca. "Provese mamita, no mas!" E passa-me uma maça meia trincada. A vertigem... Nao. Nem, pensar.
Mais à frente, um festival de cores de frutas mais ou menos exóticas. Cores acompanhadas por odores que dançam ao vento... que invadem as narinas e provocao nova salivaçao. De repente, o vento troca de sentido e traz de mais além o odor a urina seca e acumulada. De novo, a vertigem do vómito.
Ao lado da loja dos chapéus, um pequenito vira-se de repente e começa a urinar. Rápido e espontâneo demais para permitir resgatar a Holga do pescoço e sacar-lhe a maldita lomo. Tao rápido e tao intenso que, se nos distraímos um segundo que seja, perdemos o festival de vida a acontecer à nossa volta.
Um pulinho para o lado, mesmo a tempo de evitar a baldada de água e sabe-se lá mais o quê.
Olho desesperada para as gentes. Tento adivinhar-lhes a vida. De onde vêm, o que fazem quando nao estao ali. Tenho vontade de perguntar e saber... Mas aqui a vida acontece a correr.
Um velho surge do nada e de repente, encolhido e coberto de lixo de dias, meses, anos, passados nas ruas. Cheira a urina e outras coisas que nao consigo distinguir. Estica a mao que encosta à minha barriga. Quer qualquer coisa, mas nao entendo o quê. Dinheiro ou comida. Por certo! "Perdona señor... no...". Viro a cara para o outro lado e um casal de crianças, pequenas, muito pequena... mas muito maiores do que aparentam... "Regalame caramelo!". Também elas sujas, mas de brincarem por ali. Sao livres, como nos disse alguém acerca das crianças. Nao aqui, mais acima, em Huanchaco... Mas dá igual. Estas estao sujas porque também sao livres. "No tengo, perdona.". Tento nao me distrair do resto que se passa à minha volta... porque é tanto!!!
Nao avistamos um único turista naquele ambiente compacto de cheiros, sons e cores. Numa cidade que vive do turismo. É a zona do mercado. A zona vermelha.
Ao canto, uma sra acaba por ceder aos caprichos da fisiologia. Agacha-se ligeiramente e afasta as saias coloridas. Ao mesmo tempo, passa um homem com um carro de mao com melancias cortadas e descascadas. Tapa-me a vista da sra e leva-me para um petiz que retira copiosamente macacos do nariz, raspando a unha suja (do momento e de momentos antes, de dias antes) nos dentes.
Logo passa um homem a vender revistas pequenas... com banda desenhada. A história da semana santa. 1 sol. Viro a cara um segundo para olhar para a banca da fruta e já tenho uma BD chapada à frente da cara "Levese mamita! 1 sol!". No gracias...
Aqui mesmo ao lado, os cuis, dentro de um saquinho de rede. Esses animais de aspecto amistoso, semelhantes a hamsters, que se comem fritos, grelhados ou guisados... Um pitéu requintado. Vivos, ainda, os animaizinhos quase nao se mexem, uns em cima dos outros. Paro por uns segundos a olhar... Perguntam-me se já provei. Digo que nao... Que sao parecidos a animais de companhia, que seria o mesmo que comer um cao... Ela nao entende. Mas nao pelo espanhol, que o sotaque nem está mau.
E continua, e continua... até que damos com o fim do labirinto do mercado. Vemos de novo o céu e precisamos de nos sentar para digerir tudo o que acabámos de sorver, sofregos e felizes.
Etiquetas: América do Sul, Huaraz, Mercado, Peru, Viagem
0 Responses to “”