Perú - Trujillo
22 Março - 20h05min
À espera do autocarro para Huaraz. Sentados na rua a respirar os ultimos sopros calmos de um ar quente, quase pastoso. Cruzamos as pernas e entregamos as costas á parede exterior da Agência 14, uma agência usada por "locais". Barata.
Respiramos fundo e tentamos nao reagir com o mesmo preconceito que reagem as gentes deste bairro ao se cruzarem connosco no seu caminho pós-jantar... "Gringos!" E levantam uma mao, um ombro ou um sobrollho... Um qualquer coisa mas sem simpatia. Natural. Nao vale a pena reagir com uma revolta de indignaçao ou com o mesmo preconceito. Vale a pena tentar explicar... Mas hoje já nao nos apetece mais.
Expiro prolongadamente enquanto perco os olhos nos doces pormenores comuns por estes bairros... À nossa frente sentam-se, no chao, na beira da calçada, um pai e a sua filha. Uma pequenina, muito pequenina, de cabelo grande, enrolada sobre os seus joelhos... Quase que os abraça. Tem voz doce e infantil e faz perguntas pertinentes ao pai.
O pai, jovem também, de cabelo curto, quase que abraça os seus joelhos, os dele e os dela. E perde o olhar de e com carinho nos olhos da filha. Os dois de costas para nós... Só nos deixam adivinhar esta dança amistosa de palavras com os olhares que vao trocando.
A pequena vê todas as perguntas respondidas. O pai recosta-se sobre os punhos, servindo-se dos braços esticados como encosto de cadeira e assobia ao ar calmo e quente que passa.
Agora somos quatro perdidos nos pormenores que sempre existem nestes bairros. Eu perdi-me algures no meio de toda a ternura daquela cena, que nao consigo transpor para palavras...
As gentes continuam a passar, mas já nao se escuta "gringos". O assobio acalmou tudo e é tranquilizante, enebriante de mais...
Foi, sem duvida, um momento mágico. Mas a magia nao ficou por ali. momentos depois, o silêncio. E mais uns depois, o render da guarda: da pequena que faz perguntas pertinentes por um petiz que nao caminha e, do sono que tem, mal se aguenta sentado. Encaixa-se num género de bolsa feita pelas pernas do pai, que o acolhe com um carinho enexplicável... Levanta a cabeça, como pode, com uns olhos curiosos apontados na nossa direcçao e deixa um pequeno tufo de cabelo ao vento, que o levanta e lhe dá o ar mais cómico, ternurento e ensonado que me lembro de ter visto.
E assim surge a conversa. Com uma risada minha, um assobio do Pedro e um diz "Hola" do pai...
Que sempre teve o mal dentro dele. Que batia na mulher e tudo. Que se punha infeliz se nao tinha comida. Que bebia. Que foi para o exercito porque queria treinar-se para ir para as FARC (a guerrilha colombiana). Até que um dia ouviu uma voz de anjos a cantar uma música e mudou completamente de comportamento. Era essa a musica que estava a assobiar. Impressionante, o ar sao com que nos contou tudo... incrivel como nao o julgámos louco, nem por um instante de segundo.
Nao tem nada, para além da mulher e dos filhos e de uns irmaos (11) que nao vê há 9 anos. Esta noite vai entrar no autocarro para ir ter com eles, para os abraçar e procurar trabalho. Para ter comida para os filhos. Juntaram os trocos que tinham e compraram os bilhetes de 35 sols cada cabeça. E ainda lhe sobraram uns trocos... Parte deles investidos numa garrafa de água para nós... Porque o sr da bodega estava com sono e a nossa nota de 10 nao lhe dava jeito nenhum...
Falou-nos em deus, o seu deus. A sua fonte de energia.
O acordar da consciência universal... A energia, ou a força, que quase todos sentimos (?) e que cada um explica como pode... e consegue.
E mais uma viagem nocturna!!!! Se encostamos o corpinho numa cama... até pensamos que é mentira!
Etiquetas: América do Sul, Autocarro, Peru, Praia, Trujillo, Viagem
Pois é, procurar as gentes atrás das gentes. Olhar por detrás das nossas interpretações, perguntar, ouvir. Muito bom, muito bom! Isso sim é conhecer um país. Parabéns por escolher esse roteiro. Como alguém disse, isso faz crescer. Desejo de continuação de uma boa viagem...
Olá Aventureiros!
A Nave dos Loucos anda pelas arenas de Nimes sobre pegadas romanas.
Que bom ouvir o reporter Cocas há bocado e agora...ler a reportagem fresquinha. Como é fácil perceber que vos seja já dficil resumir o que são em eng. mecânico e uma dentista. A viagem, ainda tão curta, já vos fez crescer mais uns centímetros e sentir que um resumo assim é mesmo curto para quem sonha o mundo e lhe mete o nariz.
Como já nos começamos a habituar a Sofia escreve "de puta madre" y o Cocas "hace unas fotos alucinantes"!
Ficamos de água na boca por mais.
Bejo grande para os dois.
Pai e Mãe...e até já
PS - Mr. Martin (o de França!), preocupou-se em saber da vossa viagem e mandou "trés afectueuses salutations".
Olá meus amores!!!
Fico feliz por saber das boas novas.
Vejo que está tudo a correr bem e isso deixa-me descansado. Pelo menos sei que os dois estao bem e de saúde.
Aqui as coisas tb correm bem, ou pelo menos algumas...heheheh...nunca pior!!!!!
Beijocas gordas, cheias de saudades.
P.s- Belas fotos....continuem, pois pode ser que ainda as utilize no novo catálogo que estou a fazer para uma das Ongs.
Besos
...não sei se ria se chore. Adoro ler-vos e ver pelos vossos olhos.
Sentir aquela voz feliz ontem à noite foi bom demais, mano. A da Fi não ouvi mas suponho que esteja tão ou mais radiante com tanto que se sente por aí.
Os hecho de menos. Sorrio.
*beijo x 2
hey pedro!
Je n'ai naturellement pas cherché à lire les messages en portuguais, c'est pas grave...
Tes photos sont magnifiques com dab et me donnent un petit apercu de ce que tu vis.
Profite bien.
Beijos de Paris
La Plaiz en Provence